quinta-feira, 9 de junho de 2011

A incrível tarefa de ser professor num mundo medíocre


            A verdadeira intenção de criar esse espaço foi de poder dizer aos meus alunos-amigos um muito obrigado por terem entrado na minha vida. Desde que coloquei no ar e o divulguei, tive o retorno esperado. Os que tiveram o contato com esse espaço me parabenizam pela iniciativa e dizem que se emocionaram muito ao ler o que esse professor aqui escreveu. O único texto desse blog, até então, tinha sido postado ainda no ano anterior (31/12/2010). Me veio o recesso de janeiro, algo muito esperado, já que são nesses espaços que recarrego as baterias para mais um início de trabalho. A grande questão é que o meu descanso foi tão proveitoso que me deixou muito preguiçoso. Também pudera, o local escolhido para recarregar as baterias fora a Bahia ou (Bahêa!), como o povo simpaticíssimo de lá fala. Ô terrinha maravilhosa! Eu, minha chavinha, meu irmão e minha sócia tivemos uma viagem digna de Diários de Motocicleta, a grande diferença foi que ao invés da La Poderosa, tínhamos o famoso carro que diz quando vai chover: O Celta Preto (o céu tá preto) – infame piadinha. Bom, fim do recesso, início do corre-corre, palestras, capacitações, planejamento, análises de alunos, aulas (ufa!), e o que era preguiça transformou-se em falta de tempo. Andei flertando com o world algumas vezes, quis jogar a culpa na falta de inspiração, decidi escrever quando passassem os problemas, que fiz questão de inventar e quando me deparei, chegamos em fevereiro. Comecei a me cobrar de atualizar esse espaço. Digamos que os problemas foram resolvidos, o tempo deu para ser administrado, a inspiração veio, sobretudo quando você está apaixonado, quando você está bem consigo e, principalmente, quando o seu time de coração, o glorioso santinha, está muito bem. É campeão!!! (Santinha). Daí, não tinha mais desculpas.

Mesmo com todos esses ventos soprando a favor, gostaria de ressaltar a maior inspiração para criar esse texto: Meus alunos. Desde que o ano começou fui agraciado por novos alunos-amigos. Lá no Anita Garibaldi tive contato com novos alunos tanto no 2º Ano, quanto no 3º. Mais uma vez, a sensação de que vai ser um grande ano. Mesmo com algumas puxadas de orelhas que as turmas estão precisando, e que já passei a dar. Vocês têm um potencial absurdo meu povo, bora acordar. No Patrícia Costa, fui recompensado por vários tantos outros alunos, em especial, o famoso 6º Ano D. Essa turma foi muito especial para mim e prometo que dedicarei um texto nesse blog exclusivo para eles. As outras gratas surpresas vieram dos 3º Anos. Tive contato com novos alunos que colocaram pilha nos já veteranos. Nos 7º Anos pude conhecer crianças maravilhosas tanto no B quanto no C. Nos 8º Anos, a mesma alegria de sempre e o retorno para trabalhar com o 8º A. Nos 9º Anos, pessoas que me emocionaram muito ao explicar a minha complicada situação desde que fui chamado pela Prefeitura de Jaboatão. Não irei prosseguir com este assunto, pois o objetivo desse texto é outro. E prometo me deter a um outro texto sobre esse sentimento. Com o 1º A, estamos de vento em polpa. As nossas últimas aulas foram de uma profunda interação. Isso mesmo Pedro dizendo que eu sou aproveitador, quando pedi para Victor dar aula sobre Islamismo (rsrs). Os 2º Anos são um mix de competência e perturbação. E sei que essas turmas podem ir longe.

Talvez vocês não consigam entender o título e enquadrar com o texto. É o seguinte. Fiz questão de tocar em cada ponto dos meus alunos e até lembrar de outros ex-alunos que sempre me emocionam com seus comentários nas redes sociais. Pois digo a todos vocês: Vocês são os meus verdadeiros salários. A recompensa que ganho no olhar encantado de vocês me faz não parar de procurar o mundo melhor, mesmo sabendo que esse, não terá jeito. A crença que sinto de vocês é de uma responsabilidade tão grande que isso me deixa com medo de dar o próximo passo, pois estarei sendo observado. E isso não é ruim, pelo contrário, isso me dá força. Nas últimas semanas fui deixando alguns de vocês preparados para o que poderia acontecer se caso a categoria dos professores votassem pela greve. Essa situação é muito complicada. Confesso que as vezes fico até torcendo para que essa não seja deflagrada, mas se for, vocês sabem aonde estarei. Como é que falarei sobre qualquer conteúdo histórico, sobre as rebeliões, as insatisfações do povo, se na chance em que a minha categoria necessita eu me faço de rogado e inferiorizo o discurso? Me perdoem mas não conseguiria. Se eu fizesse isso, nunca mais seria professor de história. Eu sei que atrapalho vocês. Mas juro que farei de tudo para repor o que deixei faltar.

Hoje, 09 de Junho de 2011, foi o primeiro dia depois da greve deflagrada. A adesão, ao menos para mim, não foi a esperada. Tive apoio de alguns alunos que me mandaram mensagens pelo celular, me dando força e foi por isso que resolvi escrever. O apoio veio de quem sempre soube que estarei comigo, já de muitos amigos professores, o retorno foi insignificante. O curioso é que eu nunca falto trabalho, todos vocês sabem, mesmo muito cansado, que é a minha recente rotina, não me esquivo de trabalho. Vou para o trabalho com todo o prazer. Mesmo achando algumas coisas erradas. Mas, dificilmente fico resmungando. Bem diferente de uma porrada de professores que só fazem reclamar. Aí eu pergunto ... e onde esses professores ficaram no dia de hoje? Não vou nem perder meu tempo respondendo. Hoje, me acordei às 05:30. Às 06:30 já estava no sindicato, pegando carona para ir para uma das escolas de um dos diretores do sindicato dos patrões. E no caminho comecei a entender a minha realidade. Eu ali era o único que ganhava o piso salarial. A maioria deles ganhava até dez vezes mais do que eu. Mesmo assim eles estavam comprando a briga de todos os professores. Não só visando o seu bolso. E isso me deixou confuso. Por que os professores não estão todos aqui? Ser demitido? Você precisa? E eu e todos esses bravos professores? Nós não precisamos? Amanhã, se perdermos, perderão apenas eu e os professores que foram para luta. Mas se ganharmos, todos vocês serão os beneficiados. Gostaria de finalizar esse texto rememorando a frase de um companheiro que ao ser demitido em 2009, em outra greve, proferiu a seguinte frase: “Eu fui demitido mas nós conseguimos”. Essa frase foi de meu amigo Caio Bispo. Caiu de pé. Não lambeu as botas de ninguém. E deixo o seguinte pensamento. Se cair, me levantarei logo, pois tenho o respaldo de meus verdadeiros salários. Os meus queridos alunos. Eu não irei precisar baixar a cabeça para eles, deixando claro que fraquejei. Olharei cada um nos olhos e direi: eu lutei, como espero que vocês façam quando sua hora de combater as injustiças chegar.

                                                                                          Carlos Ribeiro  
                     

Um comentário:

  1. Meu querido irmão e agora companheiro de profissão, Carlos. Encontrei meio sem querer teu blog quando vi que atualizasse teu perfil no orkut e desconfiei que era alguma mensagem de repúdio a mais uma mediocridade na educação. Pelo visto não estava errado na minha intuição. Você sabe que eu sou e sempre fui teu profundo admirador. Sua garra diária e sua coragem de reivindicar os direitos de sua classe, mesmo não tendo o apoio necessário, são dignas de aplausos e exemplo de grande pessoa e profissional que és, não só comprometido com com valores morais, mas preceitos éticos de sua profissão. Sei, como ninguém, o que se passa pela sua cabeça quando é chamado a tomar decisões que se chocam e se conflitam com o seu “bom senso”. Mas como você frisou muito bem acima: a verdadeira ética de qualquer profissional está em aliar discurso e prática. Como podemos, então, cobrar de nossos amigos e alunos “vencerem na vida” se todos nós (a classe docente) nos acomodamos com migalhas e nos acovardamos em lutar pelo que a gente acredita em troca de falsas garantias? Eu compartilho agora da sua tristeza e decepção por essa nojeira que fazem com a educação, mas ao mesmo tempo, sigo acreditando nessa que foi mais uma prova de que não há conquistas reais sem a luta dos sujeitos que ajudam cotidianamente no desenvolvimento dos trabalhadores do amanhã. Não falo em luta de classes, mas a luta pela preservação de nossos ideais, do que podemos ser e fazer quando nos prestamos a alçar vôos que ultrapassam os limites da mediocridade. Porque a mais danosa das opressões é a omissão daqueles que unidos podem combatê-las.

    Um forte abraço e seguimos sempre na luta com a certeza do dever cumprido!

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